quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Carta de uma quase ex-puérpera para uma quase mãe:


"Te prepara!"

 Passei a gravidez ouvindo essa expressão de amigos que já eram pais. Nunca entendi, achava chato e pessimista, e, na minha santa inocência, sentia-me preparidíssima para maternidade, afinal, li livros dos mais diversos, participei de cursos para pais grávidos, usei os bebês das amigas como cobaias, esmerei -me em deixar pronto o enxoval... Se eu não estava preparada, então mais ninguém poderia estar. Poisé, eu não estava! E acho que no fundo ninguém está!

Por isso resolvi escrever essa carta, querida amiga quase mãe, uma carta de uma quase ex-puérpera para você, quase puérpera; uma carta com tudo que eu gostaria de ter sabido antes de me tornar mãe. E mesmo assim, já te aviso que nem com essa carta você estará preparada. Mas não tem problema não, porque a maternidade é assim, é vivência, é mistério, é relação, é o nascimento de uma nova mulher e é a descoberta de um amor como nunca existiu.

Então lá vai:

O amor:

 

Quando o seu bebê nascer, pode ser que você não sinta imediatamente aquele amor avassalador ao estilo mundo cor de rosa de Pollyana sobre o qual se fala por aí. É normal! E muito mais comum do que imaginamos.

Durante a gravidez, alimentamos um amor pelo bebê imaginado. Amamos esse bebê, nossa barriga, nossa fantasia. Do lado de fora da barriga tudo é diferente e o bebê real, no início, pode parecer um ser desconhecido e misterioso.

(E mesmo assim você fará qualquer coisa por ele, teu instinto te impulsionará).

Não são todas as pessoas que conseguem amar o desconhecido ou que sentem amor a primeira vista sem ter primeiro uma convivência. Para muita gente, amor nasce de relação. E é por isso que muitas mães não sentem imediatamente aquele amor avassalador. O bebê real é novo, é preciso conhecê-lo, relacionar-se com ele, e é dessa relação de afeto, de cuidado, de entrega, que nasce o amor de uma mãe pelo seu filho.

E então, você finalmente conhecerá um amor sem igual. Um amor incondicional, que te moverá mesmo quando você mesma duvidar das tuas forças. Um amor com propósito, o propósito da vida, de garantir a existência de outro ser.

Por isso amiga, se esse amor sem igual não tomar conta de você imediatamente, não se preocupe, tampouco se culpe. Você é normal! Aos pouquinhos, após minutos, horas, dias de convívio com o seu pequeno, esse amor tomará conta de cada pedacinho de você e você não imaginará mais vida antes dele.

A entrega:

 

 Esse é também um assunto sobre o qual eu gostaria de ter sabido melhor. Nada do que você imaginar se aproximará ao nível de entrega que a maternidade efetivamente te exigirá. A doação será absoluta. Será preciso se diluir na existência do bebê. Você será o mundo para ele, você servirá como corpo físico e psíquico para que o bebê possa se desenvolver. Sem você ele simplesmente não existe.

 

Se entregar assim tão intensamente é um processo que pode ser difícil. Para mim foi e sei que também é para muitas outras mamães. Eu não sabia que meu mundo se desestruturaria de tal forma e que junto com o bebê nasceria uma nova versão de mim mesma. Eu também não sabia que, no fundo, tudo aquilo que me prendia ao passado e que dificultava minha doação eram meros detalhes diante de um mundo inteiro que surgiria dia após dia com o nascimento do meu bebê. Eu não sabia que tudo daquilo que ficou para trás e que, naquele momento pós-parto parecia me fazer falta, eu logo esqueceria e, o que não fosse esquecido, não ficaria na saudade.

 

Você também esquecerá! E o que não esqueceres não te fará mais falta. Por que tudo que você viverá em seguida te encantará e te completará de tal forma, que a vida de antes será apenas uma passagem de quem você foi.

Então se entregue! Não lute contra isso. A vida social, o trabalho, a casa, a academia, a praia, tudo isso pode esperar. Ouça seu coração, enlouqueça um pouco, não planeje, apenas viva. Doe-se, aproveite e assim você se sentirá em paz!


O instinto materno:

E já que eu mencionei “ouvir o coração”, quero te falar, amiga, que ele é o teu melhor guia. Não há "manual" sobre bebês tão bom quanto o coração de mãe. A maternidade é uma experiência totalmente instintiva. Você simplesmente saberá o que fazer, desde que ouças com sinceridade teu coração, teus instintos.

A pressão que esse mundo globalizado e informatizado exerce sobre as mães é muito forte e acaba gerando enormes conflitos interiores. Embora as mães saibam no seu íntimo o quê e como fazer, nos deparamos diariamente com milhares de informações contraditórias de como devemos maternar, algumas vezes de forma bastante impositiva. Tente filtrar essas informações, ponderá-las, refletir sobre elas, e se o teu coração te mostrar caminho diverso, não lute contra ele. Teu bebê será único e ninguém o conhecerá tão bem quanto você mesma!

(tem horas que nem mesmo o pediatra saberá tão bem quanto você!)

O puerpério:

 

Quero te contar também sobre o puerpério. Essa coisa de nome estranho a respeito da qual tão pouco se fala representa uma verdadeira desestruturação psíquica na recém mamãe.

Eu particularmente imaginava-me imune ao baby blue e à depressão pós-parto. Para mim essas condições emocionais acometiam raras desafortunadas, mamães sem estrutura familiar, sem marido, com muitos problemas. Foi somente depois que meu bebê nasceu que eu descobri que muitas mães sofrem os intensos efeitos das modificações físicas e emocionais do pós-parto.

A puérpera é geralmente muito emotiva e pode chorar por qualquer coisa. É comum, também, ela se sentir irritada, cansada e carente. É como uma TPM dez vezes mais intensa. A recém-mamãe pode experimentar sentimentos de tristeza e insatisfação que ,para ela, são incompreensíveis, afinal ela realizou o sonho de mãe e deveria, portanto, se sentir feliz e realizada.

 

Por isso, saibas, amiga, que todos esses sentimentos são normais e que nada disso - dessa tristeza, irritação, insatisfação - te farão menos mãe.

 

Buscar uma rede de apoio é uma boa estratégia para enfrentar esse desequilíbrio físico e emocional que nasce junto com o bebê. E, se necessário, a ajuda profissional também poderá ser uma grande aliada. Logo teu corpo e teu psíquico se ajustarão fisicamente a nova vida e esses sentimentos aos pouquinhos irão embora, dando lugar a uma felicidade nunca antes sentida.

 

A amamentação:

 

Hoje em dia, é bem comum vermos campanhas de incentivo à amamentação veiculando imagens cativantes de mamãe serenas e felizes amamentando seus bebês. Esse ato tão lindo de nutrir outro ser parece, então, natural e fácil.

 

Pois preciso te contar, amiga querida, que no início amamentar pode ser bem difícil, dolorido, cansativo; pode não acontecer assim tão naturalmente e te fazer se sentir de tudo que é jeito, menos feliz e serena. Não tem problema, isso também é comum. Você estará aprendendo a dar de mama e o teu bebê a mamar e existem vários fatores que podem influenciar nessa relação, desde a pegada do bebê no seio e a maneira de você segurá-lo, até condições emocionais, que, sim, interferem muito na amamentação. Uma rede de apoio nesse momento (especialmente do pai do bebê) é grande aliada. Logo você e seu bebê se ajustarão e amamentar se tornará prazeroso e gratificante. Você ficará tão íntima com o lindo ato de nutrir outro ser, que poderá até usufruir dos momentos de amamentação como uma forma de descanso e relaxamento.

 

Não vou falar aqui sobre os enormes benefícios da amamentação. Sou super adepta ao ato e estou sempre enaltecendo a importância que ele tem para mim e para o meu bebê e o tanto de prazer que ele nos traz. Mas tem uma coisa que eu aprendi somente na prática e que faço questão de te contar: amamentar não é só nutrição física. É também apego, segurança, aconchego, nutre a alma e coração do bebê; fortalece o vínculo materno, acalma o bebê. Então, esqueça o relógio, as tabelinhas, as regras de intervalo e de tempo de cada mamada. Amamente em livre demanda. Porque, sim, quase tudo se cura no peito! E no colo também!

 

Dê muito peito, muito colo, apegue-se e desfrute de um sentimento que fará feliz como nunca!

 

Essas foram as minhas experiências pessoais. Muitas delas, na época, surpreenderam-me e fizeram eu me sentir anormal e sozinha; como se eu fosse a única pessoa no mundo a experimentar essas vivências. Esses sentimentos, além de desconhecidos, tiveram para mim uma grande carga de permanência. Foi somente vivendo-os que eu finalmente entendi que eles eram passageiros e que dariam espaço para uma felicidade imensa. Escrevo-te essa carta, pois acredito que para mim tudo teria sido mais leve se eu soubesse tudo isso que agora te conto.

 

Desejo-te um maravilhoso início de vida nova!

 

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