quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Meu (não)parto



Na semana passada, o documentário “O Renascimento do Parto” estreou e eu não fui vê-lo. Me peguei muitas vezes desejando e planejando assistir e, segundos depois, um medo estranho me acometia. Visitei blogs que costumo seguir e vi uma enxurrada de posts a respeito do filme, mas não li nenhum; assisti várias vezes o início do trailer, mas em nenhuma delas cheguei até o final. E desde o dia do meu aniversário, quando aconteceu a pré-estreia do documentário, um sentimento de perda, que havia meses estava escondido, voltou a visitar minha alma, meu corpo, meu coração. Então percebi que a ferida que eu achei que estivesse curada, a dor do não parto, na verdade, sempre esteve aqui, eu só havia a escondido.

O Ian nasceu de cesárea. Uma cesárea a pré-termo, se é que assim posso chamá-la; uma cesárea às 39 semanas e 2 dias, sem trabalho de parto. O que eu sei - e que até o momento ainda não me sinto preparada a desacreditar -, é que ela foi uma cesárea necessária. Isso eu nunca questionei e é desse questionamento que surge meu medo.

Minha gestação foi tranqüila. No dia em que completei 39 semanas, estávamos bem, o bebê e eu; o tampão mucoso já havia sido parcialmente expelido e eu apresentava um início de dilatação. Dois dias se passaram e, numa quinta-feira, 13/12/2012, eu acordei me sentindo enorme, pesada, com dificuldade para respirar e desconfortável em qualquer posição. Achei todos esses sintomas normais para uma grávida no estágio em que eu me encontrava, a única coisa que me incomodou foi uma sensibilidade enorme na barriga, uma dor estranha na pele, no músculo, nas entranhas; havia partes da minha barriga que doíam com um simples toque. Nesse mesmo dia, estava agendada uma ultrassonografia de rotina. Fomos eu e o meu marido realizar o exame. Durante o procedimento, o simples deslizar do aparelho de UG sobre a minha barriga, mesmo com o gel, trazia-me bastante dor, mas a felicidade em ver o meu bebê todo encolhidinho e aconchegado lá dentro, fez-me esquecer qualquer incômodo. O exame seguiu tranquilo. Os sinais vitais do Ian estavam normais, ele foi “medido” e “pesado” (estimativas de UG), estava em posição cefálica, quase encaixado, a placenta estava madura, mas ainda nutrindo-o. Até ali, tudo perfeito. Contudo, ao final do exame, a médica ficou muda, parou de sorrir, e continuou esfregando o aparelho de UG na minha barriga. Eu gelei. Ela me disse, então, que a quantidade de líquido amniótico havia subido demais e que meu útero estava muito distendido. E, ao saber que eu só veria novamente minha obstetra dali a cinco dias, avisou-me que ligaria para ela para explicar-lhe meu quadro. Assim que eu deixei a clínica de UG, minha obstetra me telefonou, pediu que eu fosse até o seu consultório e lá diagnosticou um quadro de polidrâmnio, excesso de líquido amniótico. Geralmente ele é causado por diabetes gestacional, por má-formação fetal ou por obstrução no esôfago do feto. Os dois primeiros estavam descartados por exames. Restava apenas a obstrução (o que, depois do parto, descartou-se também). Além disso, ela me disse que havia muito resíduo no líquido amniótico, levando-a a suspeitar da existência de mecônio. Ela mediu minha barriga e me pesou: a altura uterina havia aumentado em 6 cm e o peso em 2,5Kg em apenas dois dias. Com os olhos cheios de lágrimas e um nó dolorido na garganta, recebi a recomendação de uma cesárea de emergência, pois, segundo ela me explicou, havia risco de rompimento uterino e de sofrimento fetal; eu poderia perder meu bebê, meu útero e minha própria vida. Fiquei apavorada, desnorteada, e, ainda assim, esperançosa, como se uma boa notícia fosse chegar em seguida, como se a coragem de questionar, procurar outra opinião, ainda me viessem. Lembro de pedir para iniciarmos uma indução naquele mesmo dia; pelo menos tentar, pelo menos entrar em trabalho de parto, mesmo que induzido. Mas logo outros obstetras da mesma clínica foram chamados na sala e todos eles recomendaram unanimemente a cesariana. O olhar do meu marido era de pavor. Insegura, acometida de uma insuportável pressão emocional, cedi e fui encaminhada para maternidade.

Meu (não)parto foi cirúrgico, a pré- termo (sem trabalho de parto), mas consegui humanizá-lo (se é que posso usar essa palavra, já que eu nada protagonizei) da melhor maneira possível para aquela situação. Improvisei um plano de parto (“B”, já que o “A”, que estava lindo e impresso, era para um parto natural) num pedaço de papel a caminho da maternidade e quase todas as minhas exigências foram atendidas. Meu sonho estava desmantelado, então me contentei com o mínimo. As 20:59 horas do dia 13/12/2013, nasceu o meu maior amor, num centro cirúrgico com a trilha sonora preparada pelo papai, com o ar-condicionado e as luzes fortes desligados, o campo abaixado e silêncio absoluto dos profissionais. Eu vi o Ian sair de dentro de um corte de mil camadas na minha barriga, ouvi seu choro forte. O cordão umbilical era pequeno, tinha apenas 26 cm, e foi logo cortado para que o bebê viesse até mim. E, de fato, ele veio e comigo permaneceu durante o restante da cirurgia e da recuperação, pele a pele, olho no olho, todo melecadinho, quentinho, assustado, aconchegado. Nenhum procedimento foi realizado até que ele mamasse. E ele mamou, mamou por quase 30 minutos. Somente depois foi pesado, medido, vestido, tudo comigo e o pai ao lado. Ele dormiu melecadinho, só tomou banho no dia seguinte, no nosso quarto, dado por mim e pelo pai, com ajuda de uma enfermeira querida.

Meu (não) parto foi cirúrgico, convencido-me necessário e assim depois reafirmado em razão do cordão muito curto (segundo minha obstetra, eu jamais conseguiria ter parido o Ian em virtude do tamanho do cordão). Minhas exigências “humanizantes” foram quase todas atendidas. E mesmo assim, os segundos que separaram o Ian de mim, do momento em que ele deixou meu ventre até chegar ao meu peito, pareceram-me uma eternidade, foi como se parte de mim tivesse sido arrancada. Um vazio eternamente marcado na minha alma, no meu corpo, no meu coração.

Chorei meu (não) parto durante semanas. E, então, em busca de forças para enfrentar o puerpério, entregar-me ao Ian e a ele me fusionar, precisei afastar essa ferida, negá-la, escondê-la. Ainda não me sinto pronta para reviver a marca que a cesariana me deixou. Tenho medo de questionar meu (não) parto; do que posso encontrar; de enfrentar esse fantasma. Mas o sistema não me calará para sempre. Admitir meu temor foi o primeiro passo! Logo para o parto renascerei e quem sabe, se a vida decidir dar ao Ian um irmãozinho(a), eu finalmente viverei a experiência de parir.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Mãe também sofre disso?




 

Na semana passada o Ian completou 8 meses. Ele ainda está sentindo os efeitos da descoberta do próprio corpo, do próprio EU; ele ainda teme a separação da nossa díade mamãe-bebê. Mas o mundo tem se mostrado tão interessante, a vida tão gostosa e curiosa, que a ansiedade dele melhorou bastante. Ele está finalmente se preparando para conhecer esse mundo que há fora da mamãe. Só que a mamãe aqui está totalmente imersa no mundo bebê.

Antes de retornar ao trabalho, eu ansiava por uma vida além do bebê, por um tempo só meu para fazer o que eu quisesse, por momentos da vida de antes. Daí, voltei a trabalhar e tudo que eu mais quero era estar com o Ian. Os vestígios da vida de antes se foram; o que eu desejo fazer com o meu tempo é estar com o Ian; vida além do bebê não há. Criamos um mundo só nosso e esse mundo me conquistou, tomou conta do meu ser; não há maior prazer do que estar junto ao meu bebê, inserida no nosso mundo.

Todos os dias eu dirijo para o trabalho com um nó na garganta, com uma sensação de vazio, como se faltasse a parte mais essencial do meu ser. No trabalho, eu não desço para almoçar, não saio da minha sala, não quero perder um minuto a mais longe do Ian. Quando alguma colega puxa conversa, meu assunto é só o bebê (elas devem me achar uma chata). No término do expediente, eu corro para casa para reencontrar meu pequeno. Não me permito parar no caminho. Não consigo mais ir à academia. Não faço compras. Não vou ao cinema. Até hoje, nunca saí para jantar ou almoçar sem o Ian. Não consigo dormir longe do bebê. Todo o meu tempo fora do trabalho é dele; é com ele que eu quero estar.

Isso tudo parece lindo. Para mim é! É lindo e suficiente. Mas logo deixará de ser para o Ian. Ele quer crescer, quer viver, quer ter acesso ao mundo que existe fora de mim. Ele precisa disso; ele merece isso. E embora para mim viver a díade seja suficiente, seja o que eu mais quero, eu sei que preciso me desprender, que preciso visitar novamente o mundo de fora.

A vida nunca voltará ser como era antes. Ela será para sempre diferente. Agora eu sou mãe. Mas sou também esposa, filha, neta, amiga, mulher. Preciso reencontrar esses outros pedacinhos de mim. Nunca imaginei que fosse tão difícil assim!

Estou sofrendo de ansiedade da separação. Mãe também sofre disso?

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Reflexões sobre a maternidade e o amor: o meu renascimento

 

Esse é um post de aniversário. 

Hoje se completa e reinicia mais um ciclo anual desde o meu nascimento. Mas não é sobre esse nascimento de 32 anos atrás que eu escreverei. É sobre meu renascimento. É sobre os efeitos de oito meses de maternagem na pessoa que eu era. Que eu "era" sim, pois hoje me sinto transformada, renascida.

Eu sempre quis ser mãe. Na minha passagem por este plano espiritual tive certeza de que a maternidade deveria acontecer. E com a vontade de ser mãe, vinha um pacote de idéias da mãe que eu seria e de como faria minha maternagem. 

Antes de engravidar, eu me imaginava uma mãe moderna e feminista no sentido ocidental e capitalista da palavra. Imaginava-me mãe de um bebê treinado, que seguiria a rotina dos adultos, que já saberia dormir sozinho desde a chegada da maternidade, que viria ao peito apenas para ser alimentado e que seria desmamado aos seis meses, que receberia carinho e cólo controlados para não ficar mal acostumado, além de muitas outras idéias que me foram vendidas e que eu, desinformada e inexperiente, na época comprei sem me conhecer como mãe.

Então me vi  grávida de um bebê muito esperado e, na medida em que o Ian era gerado, uma coisinha foi mudando dentro de mim. Aos poucos,  passei a me sentir desconfortável com aquelas idéias preconcebidas de uma experiência que eu nunca antes havia vivido.

Enfim,  nasceu meu bebê, indefeso, sozinho, assustado com esse mundão aqui de fora. Um bebê completamente entregue a mim, um bebê cujo existir ainda dependia totalmente de mim. E a presença daquele pequeno ser protagonizou uma reviravolta pessoal na minha vida.

Logo percebi que o lugar do meu bebê era nos meus braços e tê-lo junto ao meu corpo era para mim o melhor lugar do mundo. Senti-me lisonjeada em saber que aquele lindo bebezinho precisava do meu sono zelando o dele e desfrutei de um prazer indescritível ao vislumbrar que o simples palpitar do meu coração afastava a imensa solidão que assombra o recém nascido. 

Passei a enxergar o Ian como um ser em desenvolvimento, pequeno, indefeso, dependente, fusionado, mas próprio e, portanto, merecedor de respeito e liberdade. E com isso abandonei mais uma das idéias do pacote pré-maternidade, guardei todos os livros de treinamento de bebê e decidi que o Ian jamais seria "programado" a ser e agir do modo conveniente aos seus pais. Ele é e será criado da melhor maneira para ele, respeitando seu próprio tempo.

E como é tão bom para ele, o Ian ainda mama no peito e, às vésperas de entrarmos no nosso nono mês de amamentação, sequer penso em desmame. Na amamentação os efeitos da minha transformação pessoal  também foram profundos. Nos primeiros dias de vida do Ian eu ainda tratei a amamentação de forma extremamente racional, com os olhos colados no relógio e isso quase me levou a um desmane precoce. Então busquei apoio e deixei aflorar em mim meus mais profundos e primitivos instintos e encontrei um enorme prazer em nutrir meu bebê. Nutrir não só fisicamente, mas também com muito amor, pois para mim amamentar é dar alimento ao corpo e também à alma. É contato corporal, é segurança, é conforto, é, sobretudo, amor. Por isso eu amamento em livre demanda, sempre que o Ian quer e precisa, e assim pretendo continuar a fazer enquanto for bom para nós dois.

Hoje olho para trás e sorrio diante da metamorfose processada em mim. Entreguei-me a maternidade de um modo nunca antes imaginado. Assumi a nobre missão de garantir a existência verdadeiramente feliz de outro ser, respeitando-o como próprio, buscando sempre agir da melhor maneira para ele, mesmo que para isso eu precise me despojar das minhas próprias vontades.  E assim, sem medida para o amor, maternando ativamente, recebi a melhor recompensa, renasci, transformei-me numa pessoa melhor e encontrei na maternidade a plenitude do amor e da felicidade.

Hoje eu saúdo não apenas os 32 anos que já vivi. Súudo também meu novo EU, meu renascimento como mãe.

domingo, 11 de agosto de 2013

Ansiedade de separação



“There is not such a thing as a baby”. (Não existe isso chamado bebê) 
(Winnicot)

Mesmo após o nascimento, fora do ventre materno, o bebê ainda não existe sozinho. Nos seus primeiros meses de vida, o bebê depende absolutamente da mãe e essa dependência segue de forma relativa durante toda primeira infância.

Para começar a ser, o bebê precisa de alguém que esteja tão identificada com ele, a ponto de ser ele mesmo, numa versão já desenvolvida.

Não existe bebê humano capaz de sobreviver sem outro alguém. O bebê é imóvel e incapaz de sustentar seu própio corpo, de nutrir-se, de se manter seguro e confortável, então Deus lhe deu uma mãe para carregá-lo, para alimentá-lo e confortá-lo no peito, para aquecê-lo com o contato corporal, para gradativamente apresentar-lhe o mundo, enfim para ser ele mesmo.

Nos primeiros meses de vida o bebê está tão fusionado a sua mãe, que ainda não é capaz de perceber onde a mãe termina e ele começa. Para o bebê, o rosto da mãe (e todas as emoções e sentimentos que ele transmite) é o protótipo do espelho. Na face da mãe, o bebê vê a si mesmo.

Aos poucos esse pequeno ser inacabado começa a descobrir o próprio corpo, o corpo que ele habita, e a mãe vai lhe devolvendo o seu EU. É nessa fase, por volta do oitavo mês, que o bebê vai percebendo que ele e a mãe são seres diferentes que possuem corpos distintos.

Essa descoberta pode despertar sentimentos de medo, angústia, terror no bebê. O bebê já sabe seu próprio EU, já sabe que a mãe é outro que não seu EU, mas ele ainda não tem noção de permanência nem da existência do mundo fora do seu campo de visão. Dessa forma, toda vez que o bebê deixa de enxergar a mãe, ele experimenta um sentimento de que ela desapareceu para sempre, de que ela se foi para nunca mais voltar, de que ela deixou de existir.

É comum, portanto, que ao viver essa fase o bebê se debulhe em lágrimas toda vez que a mãe sai do seu campo de visão, fique mais apegado ainda à mãe, não aceite cuidados de outras pessoas quando a mãe está por perto, apresente dificuldades para dormir e as vezes até perca o apetite.

Como eu vejo essa fase: 

Para mim, embora o bebê já reconheça seu próprio corpo e a mãe não seja mais o seu EU, ele ainda está totalmente fusionado emocionalmente à mãe. A mãe é o mundo para ele. Então, quando a mãe desaparece, é como se o mundo acabasse e nada mais restasse, o bebê mergulha num abismo de solidão, de medo. Assustador, né?!

É exatamente isso que está acontecendo aqui em casa. Ian está um chicletinho comigo, não posso dar as costas para ele que o beicinho já se forma e quase sempre vira choro. E o sono então, ahhh esse nem se fala (some ainda 2 dentes nascendo e uma bronquite sendo curada). Toda vez que ele fecha os olhos, eu deixo de existir para ele, por isso ele precisa de mim por perto (leia-se grudada) para dormir e acorda toda hora para conferir se eu ainda estou ali.

Como eu tenho lidado com essa fase: 

Com muito AMOR! Procuro ser empática à ansiedade do Ian. Ele anseia por mim, por meu amor, pelos meus braços, pelo meu peito. Então é isso que eu dou para ele, o que ele precisa. Dou carinho, contato corporal, mama, brinco, estou presente o máximo possível. 

E, ao mesmo tempo, converso com ele, despeço-me mas mostro que voltarei, brincamos de cadê/achou (essa brincadeira é ótima para o bebê entender o estado de permanência), encorajo-o a enfrentar sua auto-descoberta com toda segurança que posso lhe transmitir.

"Tenderness appeared in man's mammalian ancestors eons before he learned to preserve fire or shape a stone." (Carinho surgiu nos antepassados do homem eras antes de ele aprender a fazer fogo ou lapidar pedra). 
(Lewis Mumford)

Somos seres de amor, nossa capacidade de dar e receber carinho é natural, inata, está no nosso espírito, especialmente em relação a nossa própria cria.

(Foto: Matusa; Traduções minhas)

Ao meu pai e ao pai do meu filho


A você que criou vida; a você que se despojou das próprias necessidades para garantir a existência feliz de outro ser; a você cujo contentamento próprio passou a ser o contentamento da sua cria; a você que dá suporte material e emocional aos seus filhos e a mãe dos seus filhos sem lhes transparecer tuas próprias fragilidades; a você que serve de fortaleza, de exemplo, de fonte inesgotável de amor; a você minha eterna gratidão!

Feliz dia dos pais, hoje e todos os dias. 

Com muito amor 

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Para meu bebê



Filho querido,


Quase oito meses se passaram desde que você deixou de habitar meu ventre. Foram muitas conquistas. O tato, a visão, a voz, a coordenação das mãozinhas, a sustentação da coluna e do pescoço, a descoberta de novos alimentos e, mais recentemente, a locomoção (seja rastejando, seja capengamente engatinhando). 

Você percebeu que agora o ronco da tua barriguinha já se cala sem mamar, que agora já consegues alcançar um brinquedo sem a ajuda da mamãe. Antes eu era os teus braços, as tuas pernas, o teu alimento, a tua interação social, o teu descanso, o teu consolo, o TEU EXISTIR. Hoje já existes sem mim. E sei que você já sabe disso, sei que já percebesse que não somos um só. Sei também que quanto mais você reconhece que a tua independência está começando a ser construída, mais precisas de mim. E eu de você.

Por isso te digo, filho querido, não temas. Não tenha medo de alcançar o mundo, de alcançar a vida. Ela é tão gostosa. Não temas o teu próprio existir. Não temas a quebra da díade mãe-bebê. Pois embora não sejamos um só materialmente, estamos totalmente fusionados um ao outro de alma, de espírito, de coração. Você não habita mais o meu ventre filho, habitas, agora, todo o meu ser, cada pedacinho de mim. E assim para sempre será!

Com todo o amor do mundo, o amor apenas nosso,

Tua Mãe.

(Foto: Matusa)

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Tenha tempo!



Sempre quando o assunto é o desejo de ter filho(s), a advertência  unânime e absoluta é: filhos custam dinheiro! Eu mesma tive isso em mente (e ainda tenho, no caso do segundo bebê), inclusive esperei a conquista de certa estabilidade financeira antes de me tornar mãe.

O que ninguém reflete a respeito, e que é ainda mais importante do que dinheiro, é que filho custa tempo. Tempo para nutrir, para cuidar, para educar, para brincar, para amar...

O Ian está com apenas 7 meses e é claro que, como um bebê novinho que depende da mãe para tudo, meu tempo de dedicação a ele, quando não estou no trabalho, é integral. O que já é de se esperar! Mas a dedicaçao não termina com o desmame, com os primeiros passos, com o desfralde, com a conquista das palavras. Não! A dedicação é para vida toda. Especialmente durante a infância, filho requer tempo dos pais, filho merece o tempo dos pais.

Há alguns meses estive no aniversário de um priminho do Ian. A festa durou dois dias e havia crianças de diferentes idades. Lá eu vi de perto pais se revezando, tal como faço hoje com o meu marido, para alimentar, cuidar e brincar com crianças de 1, 2, 3 anos. Pais que, mesmo depois de superada aquela fase bebê em que o filho não existe sem os pais, ainda estão ali integralmente dedicados aos seus pequenos.

Num mundo agitado como o de hoje, em que temos vidas adultas atribuladas pelo trabalho, por eventos sociais e até mesmo pela tecnologia, onde é comum contratar babás, matricular as crianças em escolas com turno integral ou em meia duzia de atividades extracurriculares e até utilizar "babás eletrônicas" como vídeo game e televisão para distrair as crianças, muitas vezes esquecemos que filho custa tempo antes de qualquer outra coisa e que devemos a eles nosso tempo pra sermos os pais que eles realmente precisam e merecem.

Não estou afirmando que a mãe ou pai deva parar de trabahar, nem que precise abdicar de toda vida social. Tampouco estou dizendo que pessoas muito "ocupadas" não devam ter filhos.  O que quero expressar, porque vivo na pele essa experiência, é que nossos pequenos precisam dos seus pais e que aqueles poucos minutos ou poucas horas depois que chegamos de um dia intenso de trabalho - e que nos sentimos tentados em sentar de pernas para cima no sofá e nos ocupar com a tv ou nossos iphones - precisam e devem ser dedicados aos nossos filhos.

Por isso, além de se preocupar com o custo financeiro de ter filho(s), reflita sobre o tempo que lhe custará e, se vc decidir encarar, mergulhe de cabeça e curta cada minuto.

Eu já refleti e assumi essa exigência. Hoje me sinto totalmente fusionada ao meu filho e, particularmente, estou amando cada segundo!


(Fotos: 1. iphone 2. R. P.)

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Peito, amor e apego


No domingo passado houve "mamaço" na minha cidade e esse evento tão lindo me despertou vontade de escrever sobre a amamentação. Escrever aquilo que eu gostaria de ter sabido antes do Ian nascer e que hoje eu compreendo por já ter vivido intensamente essa experiência tão mágica.

Dar de mamar é tudo de bom. É ato de amor, é troca de carinho e é também nutrição - em todos os sentidos.

Ainda durante a gestação, o corpo da mulher já começa a produzir o "nectar" dos seios. Nessa fase, a produção é de colostro, líquido um pouco diferente do leite materno e que nutrirá o bebê nos seus primeiros dias de vida.

Além do seu alto poder nutritivo, o colostro funciona como uma espécie de vacina - a primeira do bebê. Ele possui, ainda, propriedades laxativas e ajuda na eliminação do mecônio e no amadurecimento do sistema digestório do bebê.

Mas o poder do colostro não pára por aqui. Durante o trabalho de parto e nas horas que o seguem, ocorre grande liberação de ocitocina pela mamãe, o hormônio do amor. Por isso, além de garantir a nutrição e a saúde física do bebê, amamentá-lo nas primeiras horas de vida contribui para a formação do vínculo materno. Confere conforto, segurança e carinho a esse serzinho indefeso e assustado com o mundão aqui de fora.
 
E todo esse poder nutritivo e transcedental continua com a descida do leite.

O colostro, assim como o leite materno, devem ser oferecidos para o bebê em livre demanda - sempre que ele pedir, independente da frequência e da duração das mamadas. No peito, o bebê se alimentará e encontrará conforto e consolo contra quase todo incômodo. Por isso, não se atenha ao relógio, a tabelinhas e a técnicas de treinamento (adestramento) de bebês. Não perca sua energia tentando buscar outras respostas ou soluções para o choro do bebê quando teus instintos te indicam o peito, não negue a ti mesma e a teu bebê este bem tão precioso, busque um pediatra humanizado que coadune com os teus sentimentos em relação à amamentação e converse com o seu parceiro (aqui também vale a mãe, tia, sogra, irmã, amiga que esteja te ajudando) para obter dele todo o apoio do mundo. Enfim, entregue-se a essa missão tão sublime e encontre na amamentação momentos de prazer e de intimidade com o seu pequeno.

Amamentar garante a sobrevivência e saúde do bebê e, para além, faz-te amá-lo ainda mais. É mamando que o bebê sente todo o teu amor!



Dica: e se você tiver qualquer dificuldade para amamentar, procure ajuda profissional. Não desista! Eu tive, quase desisti, recebi ajuda de ouro e hoje me sinto enormemente privilegiada por nutrir meu bebê de corpo, alma e coração.

(Foto: Matusa)


Ele (aos 7 meses)


- rola, rasteja e engatinha de ré (deu pra engatinhar até dormindo) e já senta sozinho;
- começou a escalar as coisas (principalmente a mãe) na tentativa de ficar em pé;
- só pensa em ficar de pé;
- já ficou em pé sozinho no berço;
- aprendeu a descer da cama e do sofá e não tem mais barreira de almofadas que o impeça;
- coça as orelhas e enrola os cabelinhos da nuca quando está com sono;
- aprendeu a dormir super rápido no colo das avós, mas comigo prefere dormir mamando (esperto meu garoto!);
- dá tchau quando é tchau, quando é oi e quando está eufórico;
- já brincou na grama, na areia da praia e experimentou o gostinho das duas;
- quer tocar e pegar TUDO e levar até a boca, especialmente o que não é brinquedo (os preferidos são controles remotos, celulares, caixa do fio dental e a pomada de assadura);
- enjoou do azeite de oliva e está comendo papinhas com ghee;
- adora chupar casca de pão de manhã;
- acorda muito feliz e tagarela;
- as vezes acorda de madrugada olhando a luz pelas frestas da venesiana e pensa que é de manhã;
- morre de cosquinhas;
- se atira no cólo de quem conhece;
- desata a chorar quando está com outra pessoa e me vê;
- grita, berra, balbucia alto e faz careta de quem busca o som com toda força;
- adora lavar o pescoço com esponja e solta gargalhadas ilárias de cóssegas;
- está obcecado pelo ralo do box e tenta sair da banheira para pegá-lo;
- adora desenbaçar o vidro do box e o espelho do banheiro esfregando as mãozinhas;
- mastiga as dezmiltrezentasecinquentaequatro chupetas que compramos como se fossem chicletes, mas não chupa nenhuma;
- já tem 5 dentes (e o sexto está a caminho);
- faz caretas engraçadas de quem está coçando a gengiva e vive com a ponta da lingua de fora.;
- tem ataques de gana por mim e me beija, chupa, baba todinha;
- quando mama faz carinho, belisca, dá a mão pra eu beijar, enrola o dedinho no meu soutien, puxa minha correntinha e me olha nos olhos com olhar de amor, do maior amor do mundo!

(Foto: Matusa)


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Apresentação


Já faz tempo que eu tenho vontade de ingressar no universo blogueiro. Desde que me tornei mãe, tenho guardado para mim palavras de reflexão, contentamento e desabafo. E por que não dividí-las com pessoas queridas e com outras mamães cujos devaneios e sentimentos se identificam com os meus?

Em 13/12/2012, tornei-me mãe do pequeno Ian, hoje com 7 meses. A maternidade tem sido a experiência mais maravilhosa e intensa que já vivi. Desde a chegada do Ian, eu diariamente me reinvento. Com ele, eu aprendi uma nova versão do amor. Um amor diferente de todos os amores que eu já amei antes. Um amor com propósito, o propósito da vida. Um amor cuja missão é garantir a existência feliz de outro ser. Um amor construído e que ao mesmo tempo sempre existiu espiritualmente. Um amor que recebe em troca, incondicionalmente, o amor mais puro que há, de um bebê pela sua mãe.

E é desse amor - e de todas as alegrias e dificuldades sobre as quais ele se sustenta - que eu escreverei aqui.

(foto: Matusa)