terça-feira, 24 de setembro de 2013

Sessão Baby Gourmet: POLENTINHA COM GALINHA ENSOPADA


A pedidos, criei uma sessão no blog dedicada às receitas de comidinhas que fazem parte do Cardápio do Ian. Semanalmente, postarei novas receitas.

Quero lembrá-las que não sou nutricionista e não tenho nenhuma formação técnica na área. As preparações que faço para o Ian são baseadas nas orientações da pediatra que o acompanha e nas minhas experiências pessoais.

Espero que os bebês de vocês gostem! Bom apetite!

A receita de hoje é Polentinha com Galinha ensopada



Ingredientes:

1 coxa de frango orgânico sem pele (eu mesma tiro a pele)

¼ cebola pequena picadinha

½ dente de alho picado ou amassado

2 tomates orgânicos maduros sem pele e sem semente, picadinhos

¼ cenoura pequena cortadinha em mini cubinhos

azeitona desalgada picadinha (usei 1 e guardei as as demais para fazer um pesto)

alecrim ou outra ervinha que o bebê goste

tempero verde orgânico picadinho (salsa e cebolinha)

azeite de oliva

1/3 de xícara de farinha de fubá ou de polentina (o fubá demora bastante para cozinhar, mas é mais saboroso). Tenha cuidado ao comprar o fubá, a polentina ou qualquer outro produto de milho, pois há muitos produtos de milho trangênico no mercado. Para quem não sabe, o símbolo do transgênico é um T dentro de um triângulo, ele fica geralmente na parte inferior das embalagens.

2 xícaras de água (1 fria e 1 morna)

1 colher de cafezinho de ghee (manteiga indiana)



Modo de preparo:

Com um fio de azeite, refogue a coxa de frango inteira, apenas para selar. Reserve. Em seguida, refogue a cebola, o alho, o tomate sem pele e sem semente e a azeitona dessalgada.

Tomate pelado:

Para tirar a pele do tomate faça um corte em X na pele e deixe-o de molho em água quente por 2 minutos. Assim, a pele facilmente se soltará.

 

Azeitona dessalgada:

Para dessalgar a azeitona, deixe-a de molho em água, na geladeira, por pelo menos 12 horas, trocando a água de tempo em tempo. A azeitona tem ótimo valor nutricional e é rica em ômega 6, contudo seu consumo deve ser moderado em razão do sal, por isso o ideal para bebês e crianças é dessalgá-la. 

Acrescente água ou caldo de galinha caseiro até cobrir a coxa, adicione a cenoura e o alecrim e deixe cozinhar em fogo baixo por cerca de meia hora ou até a coxa estar cozida. Retire a coxa e desfie a carne. Coloque a carne desfiada novamente na panela com o molho, e deixe cozinhar em fogo baixo por 10 minutos. Ajuste o tempero.

 

Para a Polenta, dissolva o fubá ou a polentina em uma xícara de água fria, mexendo. Depois que estiver completamente dissolvida, adicione a água quente e a manteiga ghee (ou um fio de azeite) e leve ao fogo baixo, mexendo de tempo em tempo. Se você utilizar o fubá, a polenta deverá ser cozida por pelo menos 30 minutos.

Sirva a polenta com o franguinho desfiado ensopado por cima e temperinhos verdes frescos.

 

DICA: para ficar mais saborosa, eu utilizo caldo de carne ou de galinha caseiros no preparo da polenta.

Meu caldo eu faço assim:

1 peça de frango orgânico com osso (uso coxa ou sobrecoxa) ou 300 gr de carne magra de segunda (uso acém)

1 cebola pequena cortada em 4 pedaços

1 dente de alho

1 cenoura pequena cortada ao meio

1 fatia de abóbora sem sementes com casca

1 talo de salsão

Bouquet garni (buquê de ervinhas frescas da preferência do seu bebê, amarrado com barbante alimentício)

1,5 L de água quente

Levar ao fogo por cerca de 1 hora (se for carne, utilizar panela de pressão) com a panela fechada. Após esse cozimento, retirar a tampa da panela e deixar reduzir (a água irá evaporar e o caldo ficará com sabor cada vez mais concentrado).

Depois de pronto, coe e leve o líquido em um recipiente de vidro à geladeira. Quando estiver frio, distribua em forminhas de gelo, cubra com papel alumínio e leve ao congelador. Depois que congelar, desenforme os cubinhos de gelo e guarde-os em saquinhos ziplock para utilizar nas preparações de comidas do bebê.

 

 

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Atividade de pintura para bebês (e um bebê pintado)

Quem é mãe de bebê com menos de 1 ano sabe que eles colocam na boca tudo que encontram. Então, como fazer uma atividade de pintura sem colocar em risco a saúde do pequeno? Como as tintas possuem algum grau de toxidade, aqui em casa nós fazemos nossa própria tinta.

A receita é bem simples:

1xic. farinha de trigo
1 xic. de sal
1 xic. de água
Corantes alimentícios

Misture a água e o sal e deixe descansar por meia hora para dissolver completamente. Depois acrescente a farinha e mexa bem até ficar homogêneo. Separe em potinhos e acrescente o corante alimentício, misturando até obter uma cor uniforme.

Dica: use corante gel. Ele deixa a tinta com uma consistência melhor do que o líquido.

A tinta ficará com textura semelhante a guache, só um pouco mais grossinha.

Importante: Essa tinta não é comida! A receita leva sal e corante, ingredientes não recomendados para bebês. Contudo, se o pequeno experimentá-la, ele estará protegido de perigo. Aqui em casa o Ian provou as duas primeiras cores, fez careta e entendeu que não é para colocar na boca.

Na nossa atividade, o bebê foi o artista e a arte.


O Ian ficou mais pintado do que o paninho de prato que estávamos pintando.


Ele adorou a brincadeira! Eu mostrei as tintas cor a cor, uma de cada vez, deixei ele tocá-las, experimentá-las e lambuzar o que ele quis (aqui limitei nosso perímetro ao tapete de eva dele e cobri o sofá com um lençol). A atividade desenvolve a percepção das cores, o tato da textura da tinta e, é claro, a criatividade.


A tinta não mancha e é super fácil de limpar. Basta água e um sabonetinho de leve, sem muita esfregação.

E então? Gostaram dessa diversão?!

Carta de uma quase ex-puérpera para uma quase mãe:


"Te prepara!"

 Passei a gravidez ouvindo essa expressão de amigos que já eram pais. Nunca entendi, achava chato e pessimista, e, na minha santa inocência, sentia-me preparidíssima para maternidade, afinal, li livros dos mais diversos, participei de cursos para pais grávidos, usei os bebês das amigas como cobaias, esmerei -me em deixar pronto o enxoval... Se eu não estava preparada, então mais ninguém poderia estar. Poisé, eu não estava! E acho que no fundo ninguém está!

Por isso resolvi escrever essa carta, querida amiga quase mãe, uma carta de uma quase ex-puérpera para você, quase puérpera; uma carta com tudo que eu gostaria de ter sabido antes de me tornar mãe. E mesmo assim, já te aviso que nem com essa carta você estará preparada. Mas não tem problema não, porque a maternidade é assim, é vivência, é mistério, é relação, é o nascimento de uma nova mulher e é a descoberta de um amor como nunca existiu.

Então lá vai:

O amor:

 

Quando o seu bebê nascer, pode ser que você não sinta imediatamente aquele amor avassalador ao estilo mundo cor de rosa de Pollyana sobre o qual se fala por aí. É normal! E muito mais comum do que imaginamos.

Durante a gravidez, alimentamos um amor pelo bebê imaginado. Amamos esse bebê, nossa barriga, nossa fantasia. Do lado de fora da barriga tudo é diferente e o bebê real, no início, pode parecer um ser desconhecido e misterioso.

(E mesmo assim você fará qualquer coisa por ele, teu instinto te impulsionará).

Não são todas as pessoas que conseguem amar o desconhecido ou que sentem amor a primeira vista sem ter primeiro uma convivência. Para muita gente, amor nasce de relação. E é por isso que muitas mães não sentem imediatamente aquele amor avassalador. O bebê real é novo, é preciso conhecê-lo, relacionar-se com ele, e é dessa relação de afeto, de cuidado, de entrega, que nasce o amor de uma mãe pelo seu filho.

E então, você finalmente conhecerá um amor sem igual. Um amor incondicional, que te moverá mesmo quando você mesma duvidar das tuas forças. Um amor com propósito, o propósito da vida, de garantir a existência de outro ser.

Por isso amiga, se esse amor sem igual não tomar conta de você imediatamente, não se preocupe, tampouco se culpe. Você é normal! Aos pouquinhos, após minutos, horas, dias de convívio com o seu pequeno, esse amor tomará conta de cada pedacinho de você e você não imaginará mais vida antes dele.

A entrega:

 

 Esse é também um assunto sobre o qual eu gostaria de ter sabido melhor. Nada do que você imaginar se aproximará ao nível de entrega que a maternidade efetivamente te exigirá. A doação será absoluta. Será preciso se diluir na existência do bebê. Você será o mundo para ele, você servirá como corpo físico e psíquico para que o bebê possa se desenvolver. Sem você ele simplesmente não existe.

 

Se entregar assim tão intensamente é um processo que pode ser difícil. Para mim foi e sei que também é para muitas outras mamães. Eu não sabia que meu mundo se desestruturaria de tal forma e que junto com o bebê nasceria uma nova versão de mim mesma. Eu também não sabia que, no fundo, tudo aquilo que me prendia ao passado e que dificultava minha doação eram meros detalhes diante de um mundo inteiro que surgiria dia após dia com o nascimento do meu bebê. Eu não sabia que tudo daquilo que ficou para trás e que, naquele momento pós-parto parecia me fazer falta, eu logo esqueceria e, o que não fosse esquecido, não ficaria na saudade.

 

Você também esquecerá! E o que não esqueceres não te fará mais falta. Por que tudo que você viverá em seguida te encantará e te completará de tal forma, que a vida de antes será apenas uma passagem de quem você foi.

Então se entregue! Não lute contra isso. A vida social, o trabalho, a casa, a academia, a praia, tudo isso pode esperar. Ouça seu coração, enlouqueça um pouco, não planeje, apenas viva. Doe-se, aproveite e assim você se sentirá em paz!


O instinto materno:

E já que eu mencionei “ouvir o coração”, quero te falar, amiga, que ele é o teu melhor guia. Não há "manual" sobre bebês tão bom quanto o coração de mãe. A maternidade é uma experiência totalmente instintiva. Você simplesmente saberá o que fazer, desde que ouças com sinceridade teu coração, teus instintos.

A pressão que esse mundo globalizado e informatizado exerce sobre as mães é muito forte e acaba gerando enormes conflitos interiores. Embora as mães saibam no seu íntimo o quê e como fazer, nos deparamos diariamente com milhares de informações contraditórias de como devemos maternar, algumas vezes de forma bastante impositiva. Tente filtrar essas informações, ponderá-las, refletir sobre elas, e se o teu coração te mostrar caminho diverso, não lute contra ele. Teu bebê será único e ninguém o conhecerá tão bem quanto você mesma!

(tem horas que nem mesmo o pediatra saberá tão bem quanto você!)

O puerpério:

 

Quero te contar também sobre o puerpério. Essa coisa de nome estranho a respeito da qual tão pouco se fala representa uma verdadeira desestruturação psíquica na recém mamãe.

Eu particularmente imaginava-me imune ao baby blue e à depressão pós-parto. Para mim essas condições emocionais acometiam raras desafortunadas, mamães sem estrutura familiar, sem marido, com muitos problemas. Foi somente depois que meu bebê nasceu que eu descobri que muitas mães sofrem os intensos efeitos das modificações físicas e emocionais do pós-parto.

A puérpera é geralmente muito emotiva e pode chorar por qualquer coisa. É comum, também, ela se sentir irritada, cansada e carente. É como uma TPM dez vezes mais intensa. A recém-mamãe pode experimentar sentimentos de tristeza e insatisfação que ,para ela, são incompreensíveis, afinal ela realizou o sonho de mãe e deveria, portanto, se sentir feliz e realizada.

 

Por isso, saibas, amiga, que todos esses sentimentos são normais e que nada disso - dessa tristeza, irritação, insatisfação - te farão menos mãe.

 

Buscar uma rede de apoio é uma boa estratégia para enfrentar esse desequilíbrio físico e emocional que nasce junto com o bebê. E, se necessário, a ajuda profissional também poderá ser uma grande aliada. Logo teu corpo e teu psíquico se ajustarão fisicamente a nova vida e esses sentimentos aos pouquinhos irão embora, dando lugar a uma felicidade nunca antes sentida.

 

A amamentação:

 

Hoje em dia, é bem comum vermos campanhas de incentivo à amamentação veiculando imagens cativantes de mamãe serenas e felizes amamentando seus bebês. Esse ato tão lindo de nutrir outro ser parece, então, natural e fácil.

 

Pois preciso te contar, amiga querida, que no início amamentar pode ser bem difícil, dolorido, cansativo; pode não acontecer assim tão naturalmente e te fazer se sentir de tudo que é jeito, menos feliz e serena. Não tem problema, isso também é comum. Você estará aprendendo a dar de mama e o teu bebê a mamar e existem vários fatores que podem influenciar nessa relação, desde a pegada do bebê no seio e a maneira de você segurá-lo, até condições emocionais, que, sim, interferem muito na amamentação. Uma rede de apoio nesse momento (especialmente do pai do bebê) é grande aliada. Logo você e seu bebê se ajustarão e amamentar se tornará prazeroso e gratificante. Você ficará tão íntima com o lindo ato de nutrir outro ser, que poderá até usufruir dos momentos de amamentação como uma forma de descanso e relaxamento.

 

Não vou falar aqui sobre os enormes benefícios da amamentação. Sou super adepta ao ato e estou sempre enaltecendo a importância que ele tem para mim e para o meu bebê e o tanto de prazer que ele nos traz. Mas tem uma coisa que eu aprendi somente na prática e que faço questão de te contar: amamentar não é só nutrição física. É também apego, segurança, aconchego, nutre a alma e coração do bebê; fortalece o vínculo materno, acalma o bebê. Então, esqueça o relógio, as tabelinhas, as regras de intervalo e de tempo de cada mamada. Amamente em livre demanda. Porque, sim, quase tudo se cura no peito! E no colo também!

 

Dê muito peito, muito colo, apegue-se e desfrute de um sentimento que fará feliz como nunca!

 

Essas foram as minhas experiências pessoais. Muitas delas, na época, surpreenderam-me e fizeram eu me sentir anormal e sozinha; como se eu fosse a única pessoa no mundo a experimentar essas vivências. Esses sentimentos, além de desconhecidos, tiveram para mim uma grande carga de permanência. Foi somente vivendo-os que eu finalmente entendi que eles eram passageiros e que dariam espaço para uma felicidade imensa. Escrevo-te essa carta, pois acredito que para mim tudo teria sido mais leve se eu soubesse tudo isso que agora te conto.

 

Desejo-te um maravilhoso início de vida nova!

 

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Meu (não)parto



Na semana passada, o documentário “O Renascimento do Parto” estreou e eu não fui vê-lo. Me peguei muitas vezes desejando e planejando assistir e, segundos depois, um medo estranho me acometia. Visitei blogs que costumo seguir e vi uma enxurrada de posts a respeito do filme, mas não li nenhum; assisti várias vezes o início do trailer, mas em nenhuma delas cheguei até o final. E desde o dia do meu aniversário, quando aconteceu a pré-estreia do documentário, um sentimento de perda, que havia meses estava escondido, voltou a visitar minha alma, meu corpo, meu coração. Então percebi que a ferida que eu achei que estivesse curada, a dor do não parto, na verdade, sempre esteve aqui, eu só havia a escondido.

O Ian nasceu de cesárea. Uma cesárea a pré-termo, se é que assim posso chamá-la; uma cesárea às 39 semanas e 2 dias, sem trabalho de parto. O que eu sei - e que até o momento ainda não me sinto preparada a desacreditar -, é que ela foi uma cesárea necessária. Isso eu nunca questionei e é desse questionamento que surge meu medo.

Minha gestação foi tranqüila. No dia em que completei 39 semanas, estávamos bem, o bebê e eu; o tampão mucoso já havia sido parcialmente expelido e eu apresentava um início de dilatação. Dois dias se passaram e, numa quinta-feira, 13/12/2012, eu acordei me sentindo enorme, pesada, com dificuldade para respirar e desconfortável em qualquer posição. Achei todos esses sintomas normais para uma grávida no estágio em que eu me encontrava, a única coisa que me incomodou foi uma sensibilidade enorme na barriga, uma dor estranha na pele, no músculo, nas entranhas; havia partes da minha barriga que doíam com um simples toque. Nesse mesmo dia, estava agendada uma ultrassonografia de rotina. Fomos eu e o meu marido realizar o exame. Durante o procedimento, o simples deslizar do aparelho de UG sobre a minha barriga, mesmo com o gel, trazia-me bastante dor, mas a felicidade em ver o meu bebê todo encolhidinho e aconchegado lá dentro, fez-me esquecer qualquer incômodo. O exame seguiu tranquilo. Os sinais vitais do Ian estavam normais, ele foi “medido” e “pesado” (estimativas de UG), estava em posição cefálica, quase encaixado, a placenta estava madura, mas ainda nutrindo-o. Até ali, tudo perfeito. Contudo, ao final do exame, a médica ficou muda, parou de sorrir, e continuou esfregando o aparelho de UG na minha barriga. Eu gelei. Ela me disse, então, que a quantidade de líquido amniótico havia subido demais e que meu útero estava muito distendido. E, ao saber que eu só veria novamente minha obstetra dali a cinco dias, avisou-me que ligaria para ela para explicar-lhe meu quadro. Assim que eu deixei a clínica de UG, minha obstetra me telefonou, pediu que eu fosse até o seu consultório e lá diagnosticou um quadro de polidrâmnio, excesso de líquido amniótico. Geralmente ele é causado por diabetes gestacional, por má-formação fetal ou por obstrução no esôfago do feto. Os dois primeiros estavam descartados por exames. Restava apenas a obstrução (o que, depois do parto, descartou-se também). Além disso, ela me disse que havia muito resíduo no líquido amniótico, levando-a a suspeitar da existência de mecônio. Ela mediu minha barriga e me pesou: a altura uterina havia aumentado em 6 cm e o peso em 2,5Kg em apenas dois dias. Com os olhos cheios de lágrimas e um nó dolorido na garganta, recebi a recomendação de uma cesárea de emergência, pois, segundo ela me explicou, havia risco de rompimento uterino e de sofrimento fetal; eu poderia perder meu bebê, meu útero e minha própria vida. Fiquei apavorada, desnorteada, e, ainda assim, esperançosa, como se uma boa notícia fosse chegar em seguida, como se a coragem de questionar, procurar outra opinião, ainda me viessem. Lembro de pedir para iniciarmos uma indução naquele mesmo dia; pelo menos tentar, pelo menos entrar em trabalho de parto, mesmo que induzido. Mas logo outros obstetras da mesma clínica foram chamados na sala e todos eles recomendaram unanimemente a cesariana. O olhar do meu marido era de pavor. Insegura, acometida de uma insuportável pressão emocional, cedi e fui encaminhada para maternidade.

Meu (não)parto foi cirúrgico, a pré- termo (sem trabalho de parto), mas consegui humanizá-lo (se é que posso usar essa palavra, já que eu nada protagonizei) da melhor maneira possível para aquela situação. Improvisei um plano de parto (“B”, já que o “A”, que estava lindo e impresso, era para um parto natural) num pedaço de papel a caminho da maternidade e quase todas as minhas exigências foram atendidas. Meu sonho estava desmantelado, então me contentei com o mínimo. As 20:59 horas do dia 13/12/2013, nasceu o meu maior amor, num centro cirúrgico com a trilha sonora preparada pelo papai, com o ar-condicionado e as luzes fortes desligados, o campo abaixado e silêncio absoluto dos profissionais. Eu vi o Ian sair de dentro de um corte de mil camadas na minha barriga, ouvi seu choro forte. O cordão umbilical era pequeno, tinha apenas 26 cm, e foi logo cortado para que o bebê viesse até mim. E, de fato, ele veio e comigo permaneceu durante o restante da cirurgia e da recuperação, pele a pele, olho no olho, todo melecadinho, quentinho, assustado, aconchegado. Nenhum procedimento foi realizado até que ele mamasse. E ele mamou, mamou por quase 30 minutos. Somente depois foi pesado, medido, vestido, tudo comigo e o pai ao lado. Ele dormiu melecadinho, só tomou banho no dia seguinte, no nosso quarto, dado por mim e pelo pai, com ajuda de uma enfermeira querida.

Meu (não) parto foi cirúrgico, convencido-me necessário e assim depois reafirmado em razão do cordão muito curto (segundo minha obstetra, eu jamais conseguiria ter parido o Ian em virtude do tamanho do cordão). Minhas exigências “humanizantes” foram quase todas atendidas. E mesmo assim, os segundos que separaram o Ian de mim, do momento em que ele deixou meu ventre até chegar ao meu peito, pareceram-me uma eternidade, foi como se parte de mim tivesse sido arrancada. Um vazio eternamente marcado na minha alma, no meu corpo, no meu coração.

Chorei meu (não) parto durante semanas. E, então, em busca de forças para enfrentar o puerpério, entregar-me ao Ian e a ele me fusionar, precisei afastar essa ferida, negá-la, escondê-la. Ainda não me sinto pronta para reviver a marca que a cesariana me deixou. Tenho medo de questionar meu (não) parto; do que posso encontrar; de enfrentar esse fantasma. Mas o sistema não me calará para sempre. Admitir meu temor foi o primeiro passo! Logo para o parto renascerei e quem sabe, se a vida decidir dar ao Ian um irmãozinho(a), eu finalmente viverei a experiência de parir.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Mãe também sofre disso?




 

Na semana passada o Ian completou 8 meses. Ele ainda está sentindo os efeitos da descoberta do próprio corpo, do próprio EU; ele ainda teme a separação da nossa díade mamãe-bebê. Mas o mundo tem se mostrado tão interessante, a vida tão gostosa e curiosa, que a ansiedade dele melhorou bastante. Ele está finalmente se preparando para conhecer esse mundo que há fora da mamãe. Só que a mamãe aqui está totalmente imersa no mundo bebê.

Antes de retornar ao trabalho, eu ansiava por uma vida além do bebê, por um tempo só meu para fazer o que eu quisesse, por momentos da vida de antes. Daí, voltei a trabalhar e tudo que eu mais quero era estar com o Ian. Os vestígios da vida de antes se foram; o que eu desejo fazer com o meu tempo é estar com o Ian; vida além do bebê não há. Criamos um mundo só nosso e esse mundo me conquistou, tomou conta do meu ser; não há maior prazer do que estar junto ao meu bebê, inserida no nosso mundo.

Todos os dias eu dirijo para o trabalho com um nó na garganta, com uma sensação de vazio, como se faltasse a parte mais essencial do meu ser. No trabalho, eu não desço para almoçar, não saio da minha sala, não quero perder um minuto a mais longe do Ian. Quando alguma colega puxa conversa, meu assunto é só o bebê (elas devem me achar uma chata). No término do expediente, eu corro para casa para reencontrar meu pequeno. Não me permito parar no caminho. Não consigo mais ir à academia. Não faço compras. Não vou ao cinema. Até hoje, nunca saí para jantar ou almoçar sem o Ian. Não consigo dormir longe do bebê. Todo o meu tempo fora do trabalho é dele; é com ele que eu quero estar.

Isso tudo parece lindo. Para mim é! É lindo e suficiente. Mas logo deixará de ser para o Ian. Ele quer crescer, quer viver, quer ter acesso ao mundo que existe fora de mim. Ele precisa disso; ele merece isso. E embora para mim viver a díade seja suficiente, seja o que eu mais quero, eu sei que preciso me desprender, que preciso visitar novamente o mundo de fora.

A vida nunca voltará ser como era antes. Ela será para sempre diferente. Agora eu sou mãe. Mas sou também esposa, filha, neta, amiga, mulher. Preciso reencontrar esses outros pedacinhos de mim. Nunca imaginei que fosse tão difícil assim!

Estou sofrendo de ansiedade da separação. Mãe também sofre disso?

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Reflexões sobre a maternidade e o amor: o meu renascimento

 

Esse é um post de aniversário. 

Hoje se completa e reinicia mais um ciclo anual desde o meu nascimento. Mas não é sobre esse nascimento de 32 anos atrás que eu escreverei. É sobre meu renascimento. É sobre os efeitos de oito meses de maternagem na pessoa que eu era. Que eu "era" sim, pois hoje me sinto transformada, renascida.

Eu sempre quis ser mãe. Na minha passagem por este plano espiritual tive certeza de que a maternidade deveria acontecer. E com a vontade de ser mãe, vinha um pacote de idéias da mãe que eu seria e de como faria minha maternagem. 

Antes de engravidar, eu me imaginava uma mãe moderna e feminista no sentido ocidental e capitalista da palavra. Imaginava-me mãe de um bebê treinado, que seguiria a rotina dos adultos, que já saberia dormir sozinho desde a chegada da maternidade, que viria ao peito apenas para ser alimentado e que seria desmamado aos seis meses, que receberia carinho e cólo controlados para não ficar mal acostumado, além de muitas outras idéias que me foram vendidas e que eu, desinformada e inexperiente, na época comprei sem me conhecer como mãe.

Então me vi  grávida de um bebê muito esperado e, na medida em que o Ian era gerado, uma coisinha foi mudando dentro de mim. Aos poucos,  passei a me sentir desconfortável com aquelas idéias preconcebidas de uma experiência que eu nunca antes havia vivido.

Enfim,  nasceu meu bebê, indefeso, sozinho, assustado com esse mundão aqui de fora. Um bebê completamente entregue a mim, um bebê cujo existir ainda dependia totalmente de mim. E a presença daquele pequeno ser protagonizou uma reviravolta pessoal na minha vida.

Logo percebi que o lugar do meu bebê era nos meus braços e tê-lo junto ao meu corpo era para mim o melhor lugar do mundo. Senti-me lisonjeada em saber que aquele lindo bebezinho precisava do meu sono zelando o dele e desfrutei de um prazer indescritível ao vislumbrar que o simples palpitar do meu coração afastava a imensa solidão que assombra o recém nascido. 

Passei a enxergar o Ian como um ser em desenvolvimento, pequeno, indefeso, dependente, fusionado, mas próprio e, portanto, merecedor de respeito e liberdade. E com isso abandonei mais uma das idéias do pacote pré-maternidade, guardei todos os livros de treinamento de bebê e decidi que o Ian jamais seria "programado" a ser e agir do modo conveniente aos seus pais. Ele é e será criado da melhor maneira para ele, respeitando seu próprio tempo.

E como é tão bom para ele, o Ian ainda mama no peito e, às vésperas de entrarmos no nosso nono mês de amamentação, sequer penso em desmame. Na amamentação os efeitos da minha transformação pessoal  também foram profundos. Nos primeiros dias de vida do Ian eu ainda tratei a amamentação de forma extremamente racional, com os olhos colados no relógio e isso quase me levou a um desmane precoce. Então busquei apoio e deixei aflorar em mim meus mais profundos e primitivos instintos e encontrei um enorme prazer em nutrir meu bebê. Nutrir não só fisicamente, mas também com muito amor, pois para mim amamentar é dar alimento ao corpo e também à alma. É contato corporal, é segurança, é conforto, é, sobretudo, amor. Por isso eu amamento em livre demanda, sempre que o Ian quer e precisa, e assim pretendo continuar a fazer enquanto for bom para nós dois.

Hoje olho para trás e sorrio diante da metamorfose processada em mim. Entreguei-me a maternidade de um modo nunca antes imaginado. Assumi a nobre missão de garantir a existência verdadeiramente feliz de outro ser, respeitando-o como próprio, buscando sempre agir da melhor maneira para ele, mesmo que para isso eu precise me despojar das minhas próprias vontades.  E assim, sem medida para o amor, maternando ativamente, recebi a melhor recompensa, renasci, transformei-me numa pessoa melhor e encontrei na maternidade a plenitude do amor e da felicidade.

Hoje eu saúdo não apenas os 32 anos que já vivi. Súudo também meu novo EU, meu renascimento como mãe.

domingo, 11 de agosto de 2013

Ansiedade de separação



“There is not such a thing as a baby”. (Não existe isso chamado bebê) 
(Winnicot)

Mesmo após o nascimento, fora do ventre materno, o bebê ainda não existe sozinho. Nos seus primeiros meses de vida, o bebê depende absolutamente da mãe e essa dependência segue de forma relativa durante toda primeira infância.

Para começar a ser, o bebê precisa de alguém que esteja tão identificada com ele, a ponto de ser ele mesmo, numa versão já desenvolvida.

Não existe bebê humano capaz de sobreviver sem outro alguém. O bebê é imóvel e incapaz de sustentar seu própio corpo, de nutrir-se, de se manter seguro e confortável, então Deus lhe deu uma mãe para carregá-lo, para alimentá-lo e confortá-lo no peito, para aquecê-lo com o contato corporal, para gradativamente apresentar-lhe o mundo, enfim para ser ele mesmo.

Nos primeiros meses de vida o bebê está tão fusionado a sua mãe, que ainda não é capaz de perceber onde a mãe termina e ele começa. Para o bebê, o rosto da mãe (e todas as emoções e sentimentos que ele transmite) é o protótipo do espelho. Na face da mãe, o bebê vê a si mesmo.

Aos poucos esse pequeno ser inacabado começa a descobrir o próprio corpo, o corpo que ele habita, e a mãe vai lhe devolvendo o seu EU. É nessa fase, por volta do oitavo mês, que o bebê vai percebendo que ele e a mãe são seres diferentes que possuem corpos distintos.

Essa descoberta pode despertar sentimentos de medo, angústia, terror no bebê. O bebê já sabe seu próprio EU, já sabe que a mãe é outro que não seu EU, mas ele ainda não tem noção de permanência nem da existência do mundo fora do seu campo de visão. Dessa forma, toda vez que o bebê deixa de enxergar a mãe, ele experimenta um sentimento de que ela desapareceu para sempre, de que ela se foi para nunca mais voltar, de que ela deixou de existir.

É comum, portanto, que ao viver essa fase o bebê se debulhe em lágrimas toda vez que a mãe sai do seu campo de visão, fique mais apegado ainda à mãe, não aceite cuidados de outras pessoas quando a mãe está por perto, apresente dificuldades para dormir e as vezes até perca o apetite.

Como eu vejo essa fase: 

Para mim, embora o bebê já reconheça seu próprio corpo e a mãe não seja mais o seu EU, ele ainda está totalmente fusionado emocionalmente à mãe. A mãe é o mundo para ele. Então, quando a mãe desaparece, é como se o mundo acabasse e nada mais restasse, o bebê mergulha num abismo de solidão, de medo. Assustador, né?!

É exatamente isso que está acontecendo aqui em casa. Ian está um chicletinho comigo, não posso dar as costas para ele que o beicinho já se forma e quase sempre vira choro. E o sono então, ahhh esse nem se fala (some ainda 2 dentes nascendo e uma bronquite sendo curada). Toda vez que ele fecha os olhos, eu deixo de existir para ele, por isso ele precisa de mim por perto (leia-se grudada) para dormir e acorda toda hora para conferir se eu ainda estou ali.

Como eu tenho lidado com essa fase: 

Com muito AMOR! Procuro ser empática à ansiedade do Ian. Ele anseia por mim, por meu amor, pelos meus braços, pelo meu peito. Então é isso que eu dou para ele, o que ele precisa. Dou carinho, contato corporal, mama, brinco, estou presente o máximo possível. 

E, ao mesmo tempo, converso com ele, despeço-me mas mostro que voltarei, brincamos de cadê/achou (essa brincadeira é ótima para o bebê entender o estado de permanência), encorajo-o a enfrentar sua auto-descoberta com toda segurança que posso lhe transmitir.

"Tenderness appeared in man's mammalian ancestors eons before he learned to preserve fire or shape a stone." (Carinho surgiu nos antepassados do homem eras antes de ele aprender a fazer fogo ou lapidar pedra). 
(Lewis Mumford)

Somos seres de amor, nossa capacidade de dar e receber carinho é natural, inata, está no nosso espírito, especialmente em relação a nossa própria cria.

(Foto: Matusa; Traduções minhas)

Ao meu pai e ao pai do meu filho


A você que criou vida; a você que se despojou das próprias necessidades para garantir a existência feliz de outro ser; a você cujo contentamento próprio passou a ser o contentamento da sua cria; a você que dá suporte material e emocional aos seus filhos e a mãe dos seus filhos sem lhes transparecer tuas próprias fragilidades; a você que serve de fortaleza, de exemplo, de fonte inesgotável de amor; a você minha eterna gratidão!

Feliz dia dos pais, hoje e todos os dias. 

Com muito amor 

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Para meu bebê



Filho querido,


Quase oito meses se passaram desde que você deixou de habitar meu ventre. Foram muitas conquistas. O tato, a visão, a voz, a coordenação das mãozinhas, a sustentação da coluna e do pescoço, a descoberta de novos alimentos e, mais recentemente, a locomoção (seja rastejando, seja capengamente engatinhando). 

Você percebeu que agora o ronco da tua barriguinha já se cala sem mamar, que agora já consegues alcançar um brinquedo sem a ajuda da mamãe. Antes eu era os teus braços, as tuas pernas, o teu alimento, a tua interação social, o teu descanso, o teu consolo, o TEU EXISTIR. Hoje já existes sem mim. E sei que você já sabe disso, sei que já percebesse que não somos um só. Sei também que quanto mais você reconhece que a tua independência está começando a ser construída, mais precisas de mim. E eu de você.

Por isso te digo, filho querido, não temas. Não tenha medo de alcançar o mundo, de alcançar a vida. Ela é tão gostosa. Não temas o teu próprio existir. Não temas a quebra da díade mãe-bebê. Pois embora não sejamos um só materialmente, estamos totalmente fusionados um ao outro de alma, de espírito, de coração. Você não habita mais o meu ventre filho, habitas, agora, todo o meu ser, cada pedacinho de mim. E assim para sempre será!

Com todo o amor do mundo, o amor apenas nosso,

Tua Mãe.

(Foto: Matusa)

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Tenha tempo!



Sempre quando o assunto é o desejo de ter filho(s), a advertência  unânime e absoluta é: filhos custam dinheiro! Eu mesma tive isso em mente (e ainda tenho, no caso do segundo bebê), inclusive esperei a conquista de certa estabilidade financeira antes de me tornar mãe.

O que ninguém reflete a respeito, e que é ainda mais importante do que dinheiro, é que filho custa tempo. Tempo para nutrir, para cuidar, para educar, para brincar, para amar...

O Ian está com apenas 7 meses e é claro que, como um bebê novinho que depende da mãe para tudo, meu tempo de dedicação a ele, quando não estou no trabalho, é integral. O que já é de se esperar! Mas a dedicaçao não termina com o desmame, com os primeiros passos, com o desfralde, com a conquista das palavras. Não! A dedicação é para vida toda. Especialmente durante a infância, filho requer tempo dos pais, filho merece o tempo dos pais.

Há alguns meses estive no aniversário de um priminho do Ian. A festa durou dois dias e havia crianças de diferentes idades. Lá eu vi de perto pais se revezando, tal como faço hoje com o meu marido, para alimentar, cuidar e brincar com crianças de 1, 2, 3 anos. Pais que, mesmo depois de superada aquela fase bebê em que o filho não existe sem os pais, ainda estão ali integralmente dedicados aos seus pequenos.

Num mundo agitado como o de hoje, em que temos vidas adultas atribuladas pelo trabalho, por eventos sociais e até mesmo pela tecnologia, onde é comum contratar babás, matricular as crianças em escolas com turno integral ou em meia duzia de atividades extracurriculares e até utilizar "babás eletrônicas" como vídeo game e televisão para distrair as crianças, muitas vezes esquecemos que filho custa tempo antes de qualquer outra coisa e que devemos a eles nosso tempo pra sermos os pais que eles realmente precisam e merecem.

Não estou afirmando que a mãe ou pai deva parar de trabahar, nem que precise abdicar de toda vida social. Tampouco estou dizendo que pessoas muito "ocupadas" não devam ter filhos.  O que quero expressar, porque vivo na pele essa experiência, é que nossos pequenos precisam dos seus pais e que aqueles poucos minutos ou poucas horas depois que chegamos de um dia intenso de trabalho - e que nos sentimos tentados em sentar de pernas para cima no sofá e nos ocupar com a tv ou nossos iphones - precisam e devem ser dedicados aos nossos filhos.

Por isso, além de se preocupar com o custo financeiro de ter filho(s), reflita sobre o tempo que lhe custará e, se vc decidir encarar, mergulhe de cabeça e curta cada minuto.

Eu já refleti e assumi essa exigência. Hoje me sinto totalmente fusionada ao meu filho e, particularmente, estou amando cada segundo!


(Fotos: 1. iphone 2. R. P.)