domingo, 11 de agosto de 2013

Ansiedade de separação



“There is not such a thing as a baby”. (Não existe isso chamado bebê) 
(Winnicot)

Mesmo após o nascimento, fora do ventre materno, o bebê ainda não existe sozinho. Nos seus primeiros meses de vida, o bebê depende absolutamente da mãe e essa dependência segue de forma relativa durante toda primeira infância.

Para começar a ser, o bebê precisa de alguém que esteja tão identificada com ele, a ponto de ser ele mesmo, numa versão já desenvolvida.

Não existe bebê humano capaz de sobreviver sem outro alguém. O bebê é imóvel e incapaz de sustentar seu própio corpo, de nutrir-se, de se manter seguro e confortável, então Deus lhe deu uma mãe para carregá-lo, para alimentá-lo e confortá-lo no peito, para aquecê-lo com o contato corporal, para gradativamente apresentar-lhe o mundo, enfim para ser ele mesmo.

Nos primeiros meses de vida o bebê está tão fusionado a sua mãe, que ainda não é capaz de perceber onde a mãe termina e ele começa. Para o bebê, o rosto da mãe (e todas as emoções e sentimentos que ele transmite) é o protótipo do espelho. Na face da mãe, o bebê vê a si mesmo.

Aos poucos esse pequeno ser inacabado começa a descobrir o próprio corpo, o corpo que ele habita, e a mãe vai lhe devolvendo o seu EU. É nessa fase, por volta do oitavo mês, que o bebê vai percebendo que ele e a mãe são seres diferentes que possuem corpos distintos.

Essa descoberta pode despertar sentimentos de medo, angústia, terror no bebê. O bebê já sabe seu próprio EU, já sabe que a mãe é outro que não seu EU, mas ele ainda não tem noção de permanência nem da existência do mundo fora do seu campo de visão. Dessa forma, toda vez que o bebê deixa de enxergar a mãe, ele experimenta um sentimento de que ela desapareceu para sempre, de que ela se foi para nunca mais voltar, de que ela deixou de existir.

É comum, portanto, que ao viver essa fase o bebê se debulhe em lágrimas toda vez que a mãe sai do seu campo de visão, fique mais apegado ainda à mãe, não aceite cuidados de outras pessoas quando a mãe está por perto, apresente dificuldades para dormir e as vezes até perca o apetite.

Como eu vejo essa fase: 

Para mim, embora o bebê já reconheça seu próprio corpo e a mãe não seja mais o seu EU, ele ainda está totalmente fusionado emocionalmente à mãe. A mãe é o mundo para ele. Então, quando a mãe desaparece, é como se o mundo acabasse e nada mais restasse, o bebê mergulha num abismo de solidão, de medo. Assustador, né?!

É exatamente isso que está acontecendo aqui em casa. Ian está um chicletinho comigo, não posso dar as costas para ele que o beicinho já se forma e quase sempre vira choro. E o sono então, ahhh esse nem se fala (some ainda 2 dentes nascendo e uma bronquite sendo curada). Toda vez que ele fecha os olhos, eu deixo de existir para ele, por isso ele precisa de mim por perto (leia-se grudada) para dormir e acorda toda hora para conferir se eu ainda estou ali.

Como eu tenho lidado com essa fase: 

Com muito AMOR! Procuro ser empática à ansiedade do Ian. Ele anseia por mim, por meu amor, pelos meus braços, pelo meu peito. Então é isso que eu dou para ele, o que ele precisa. Dou carinho, contato corporal, mama, brinco, estou presente o máximo possível. 

E, ao mesmo tempo, converso com ele, despeço-me mas mostro que voltarei, brincamos de cadê/achou (essa brincadeira é ótima para o bebê entender o estado de permanência), encorajo-o a enfrentar sua auto-descoberta com toda segurança que posso lhe transmitir.

"Tenderness appeared in man's mammalian ancestors eons before he learned to preserve fire or shape a stone." (Carinho surgiu nos antepassados do homem eras antes de ele aprender a fazer fogo ou lapidar pedra). 
(Lewis Mumford)

Somos seres de amor, nossa capacidade de dar e receber carinho é natural, inata, está no nosso espírito, especialmente em relação a nossa própria cria.

(Foto: Matusa; Traduções minhas)

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