quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Reflexões sobre a maternidade e o amor: o meu renascimento

 

Esse é um post de aniversário. 

Hoje se completa e reinicia mais um ciclo anual desde o meu nascimento. Mas não é sobre esse nascimento de 32 anos atrás que eu escreverei. É sobre meu renascimento. É sobre os efeitos de oito meses de maternagem na pessoa que eu era. Que eu "era" sim, pois hoje me sinto transformada, renascida.

Eu sempre quis ser mãe. Na minha passagem por este plano espiritual tive certeza de que a maternidade deveria acontecer. E com a vontade de ser mãe, vinha um pacote de idéias da mãe que eu seria e de como faria minha maternagem. 

Antes de engravidar, eu me imaginava uma mãe moderna e feminista no sentido ocidental e capitalista da palavra. Imaginava-me mãe de um bebê treinado, que seguiria a rotina dos adultos, que já saberia dormir sozinho desde a chegada da maternidade, que viria ao peito apenas para ser alimentado e que seria desmamado aos seis meses, que receberia carinho e cólo controlados para não ficar mal acostumado, além de muitas outras idéias que me foram vendidas e que eu, desinformada e inexperiente, na época comprei sem me conhecer como mãe.

Então me vi  grávida de um bebê muito esperado e, na medida em que o Ian era gerado, uma coisinha foi mudando dentro de mim. Aos poucos,  passei a me sentir desconfortável com aquelas idéias preconcebidas de uma experiência que eu nunca antes havia vivido.

Enfim,  nasceu meu bebê, indefeso, sozinho, assustado com esse mundão aqui de fora. Um bebê completamente entregue a mim, um bebê cujo existir ainda dependia totalmente de mim. E a presença daquele pequeno ser protagonizou uma reviravolta pessoal na minha vida.

Logo percebi que o lugar do meu bebê era nos meus braços e tê-lo junto ao meu corpo era para mim o melhor lugar do mundo. Senti-me lisonjeada em saber que aquele lindo bebezinho precisava do meu sono zelando o dele e desfrutei de um prazer indescritível ao vislumbrar que o simples palpitar do meu coração afastava a imensa solidão que assombra o recém nascido. 

Passei a enxergar o Ian como um ser em desenvolvimento, pequeno, indefeso, dependente, fusionado, mas próprio e, portanto, merecedor de respeito e liberdade. E com isso abandonei mais uma das idéias do pacote pré-maternidade, guardei todos os livros de treinamento de bebê e decidi que o Ian jamais seria "programado" a ser e agir do modo conveniente aos seus pais. Ele é e será criado da melhor maneira para ele, respeitando seu próprio tempo.

E como é tão bom para ele, o Ian ainda mama no peito e, às vésperas de entrarmos no nosso nono mês de amamentação, sequer penso em desmame. Na amamentação os efeitos da minha transformação pessoal  também foram profundos. Nos primeiros dias de vida do Ian eu ainda tratei a amamentação de forma extremamente racional, com os olhos colados no relógio e isso quase me levou a um desmane precoce. Então busquei apoio e deixei aflorar em mim meus mais profundos e primitivos instintos e encontrei um enorme prazer em nutrir meu bebê. Nutrir não só fisicamente, mas também com muito amor, pois para mim amamentar é dar alimento ao corpo e também à alma. É contato corporal, é segurança, é conforto, é, sobretudo, amor. Por isso eu amamento em livre demanda, sempre que o Ian quer e precisa, e assim pretendo continuar a fazer enquanto for bom para nós dois.

Hoje olho para trás e sorrio diante da metamorfose processada em mim. Entreguei-me a maternidade de um modo nunca antes imaginado. Assumi a nobre missão de garantir a existência verdadeiramente feliz de outro ser, respeitando-o como próprio, buscando sempre agir da melhor maneira para ele, mesmo que para isso eu precise me despojar das minhas próprias vontades.  E assim, sem medida para o amor, maternando ativamente, recebi a melhor recompensa, renasci, transformei-me numa pessoa melhor e encontrei na maternidade a plenitude do amor e da felicidade.

Hoje eu saúdo não apenas os 32 anos que já vivi. Súudo também meu novo EU, meu renascimento como mãe.

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